A Linux Magazine conversou com o diretor executivo da nova Mandic, resultante da fusão da Mandic com a Tecla Internet, que entrou em operação no início de 2012 com aporte financeiro da Riverwood Capital e, mais recentemente, da Intel Capital. A empresa, hoje com 200 funcionários, pretende se tornar um fornecedor completo de infraestrutura de nuvem, alavancando um faturamento anual atual entre 30 e 40 milhões de reais para algo próximo a R$ 100 milhões em 2015.
Maurício é um executivo de carreira e experiência reconhecidas dentro e fora do Brasil, tendo iniciado sua carreira como engenheiro de pesquisa da HP na Inglaterra e, posteriormente, ocupado cargos na TIM, na qual ocupou várias posições de liderança nos quase 10 anos antes de sua contratação pela Mandic e da qual acabou sendo CIO.
Linux Magazine – LM: Qual a estratégia da Mandic para o mercado de cloud no Brasil?
Maurício Cascão – MC: No momento estamos nos concentrando somente no mercado brasileiro, mas a pretensão é expandir para a América Latina. Para isso, há três abordagens dentro da Mandic, do ponto de vista comercial:
1. Temos força para vendas diretas, composta de 30 executivos para visitas a clientes, montam carteira usando de metodologia profissional, com projeção de vendas e planos de metas, evangelizam, explicam, enfim, esse é o “modelo clássico”.
2. Temos também um programa de parcerias, com uma quantidade representativa de parceiros que trabalham conosco. A abordagem para parceiros é diferente, já que eles buscam na Mandic a infraestrutura como serviço (IaaS) – geralmente nossos principais parceiros são integradores. Assim, eles têm os softwares deles, tais como sistemas de gestão empresarial (ERPs), CRMs, plataformas de comércio eletrônico etc., e a preocupação dele é entender a necessidade do seu cliente, agregar novos recursos ao produto. Para isso, ele quer encontrar um parceiro de confiança pra administrar a infraestrutura, que tome conta de todos os aspectos da tecnologia que formem a base para o seus programas – armazenamento, banda de rede, backup, instalação de correções de atualizações, segurança… então enfim, parceiro é um outro modo que a gente entra no mercado.
3. E temos também a mecânica de vendas online, acoplada à televendas. Ou seja, não dá pra vender online sem ter um bom suporte telefônico. O que acaba acontecendo é que são canais distintos, com interfaces distintas, mas os produtos que a empresa oferece são fundamentalmente os mesmos, só que temos um canal de interação que funciona de acordo com a preferência do cliente. Ele pode querer uma visita presencial, ele pode querer um parceiro de confiança que já trabalha com ele – e que resolva as coisas pra ele –, e ele pode optar por resolver tudo online mesmo (e se tiver uma dúvida vai para o chat ou telefone). Gosto muito de fazer um paralelo com o segmento bancário, no qual você ainda tem agência, mas o modelo não ficou restrito à ela. Em determinados momentos você pode precisar ir à agência e falar com o seu gerente, para um investimento ou alguma coisa mais delicada, mas, provavelmente (e isso foi uma grande mudança conceitual) hoje a última coisa que você quer é ficar indo todo dia à agência. Atualmente, o banco disponibiliza para você diversos canais de atendimento, e a abordagem da Mandic tem essa semelhança.
LM: Qual a sua opinião sobre o mercado de computação em nuvem hoje? Como você enxerga a evolução do mercado aqui na América Latina?
MC: Hoje ainda se fala em computação em nuvem porque há um contexto de novidade. Mas vou fazer uma comparação e uma afirmação. A computação em nuvem é atualmente a vanguarda da TI. Dito isso, daqui a 5 anos, não vamos falar mais nisso de novo, porque vai parecer óbvio. Hoje a gente diz “Ah é! É assim que isso funciona!” – ainda há um processo de ter que catequizar o mercado –, mas daqui a 5 anos, já haverá uma grande parcela de profissionais de TI que terá nascido ou entrará no mundo dos negócios, para os quais não haverá outra maneira de ver as coisas. Nesse ponto, já não sei se TI vai virar computação em nuvem ou se computação em nuvem vai virar TI, mas acredito que a TI assumirá uma nova roupagem. Um exemplo simples para explicar o conceito de computação em nuvem é dizer que computação em nuvem é jogar fora o pendrive. E, analogamente, você joga fora também o computador tradicional. Isso porque o computador agora é pequeno, faz 500 mil coisas e a gente ainda volta um pouco àquele mantra “do mainframe viemos e ao mainframe tornaremos”. Então dispomos de altíssima capacidade de processamento na ponta, alavancada para aquilo que acontece em um mundo centralizado. Nesse modelo de hoje, o computador se resumiu ao dispositivo móvel (smartphone, tablet) e o pendrive está centralizado nas mãos dos provedor Computinges de cloud.
LM: Quais são os maiores desafios para expandir os negócios da Mandic no mercado de computação em nuvem nacional?
MC: O desafio muda de acordo com o perfil do cliente. Ainda existe o desafio da evangelização, que é conversar com o CIO, observar sua estrutura legada, verificar o que pode ser terceirizado – o que, a depender da dimensão, requer uma revisão arquitetural – , fazendo a separação em blocos, já que muitos sistemas não foram construídas para funcionar dentro desse modelo híbrido, onde há uma parte em um data center e outra dentro da empresa etc.
Eles foram construídos ao longo dos anos para ficar tudo “dentro de casa”. Então tem um processo que é envolve explicar tudo isso e esse é um desafio natural. Se abordamos um cliente de maior porte, é necessário verificar em que momento ele está, para entender o que faz sentido fazer imediatamente e aquilo que deve ser planejado para o futuro.
LM: Você acha que o CIO ainda enxerga a computação em nuvem como perda de poder?
MC: Eu acho que não. Há quatro anos atrás, sim, porque computação em nuvem era uma coisa nova, uma ameaça. Na minha opinião, quatro anos normalmente é pouco para um conceito complexo e disruptivo como cloud se estabelecer, mas acho que a “ficha caiu” muito rápido para o CIO.
Se hoje ele não está considerando seriamente a questão da nuvem, ele já tem uma percepção muito clara de que deve estar defasado em algum ponto. Acho que a pressão que foi feita sobre o CIO para trazer resultados foi tão grande que aqueles que não conseguiram se reinventar viraram gerente. E os que se reinventaram foram justamente aqueles que terceirizaram com sucesso algumas coisas para empresas especializadas, de modo que sobrasse mais tempo pra focar no negócio. Isso está evoluindo muito rápido nos últimos anos.
É raro encontrar um CIO hoje em dia que nunca tenha ouvido falar de nuvem, e está ficando quase impossível encontrar um que se diga completamente contra. Você ainda encontra gente que diz: “Olha, na minha situação, como é que você me ajuda?” E, geralmente, quando você se encontra nessa situação é quando topamos com alguém que sofre de uma coisa: banda larga de má qualidade.
Assim, mesmo com uma operação distribuída em diversas regiões do país, com escritório comercial e equipe de atendimento presencial (estrategicamente nós estamos em São Paulo, Rio, Paraná, Santa Catarina, e Rio Grande do Sul), em regiões muito ricas, industriais etc., uma das grandes dificuldades ainda é ouvir: “Olha, eu gosto muito da ideia, mas como você me ajuda porque já foi extremamente complicado conseguir uma banda larga de qualidade mediana para poder atender aqui onde nós estamos?”. E aí, atual e efetivamente, não é possível dizer ao CIO para experimentar… Sem resolver a questão da banda, é melhor ficar como está.
LM: E a segurança, continua sendo um problema ou não?
MC: A percepção que eu tenho é que a segurança é meio que um chavão. Acho que isso ainda está muito ligado àquela percepção de 4 ou 5 anos atrás da perda do poder. Há, ainda, uma preocupação legítima com essa questão (e tem que haver, sempre), pois a mídia colocou tudo isso em evidência com a questão do vazamento de informações, mas não é porque o servidor está fora da sua rede que é mais ou menos seguro.
Aliás, dependendo da conduta de governança em TI das empresas, é bem provável que a situação da segurança seja pior dentro do que em um provedor de seviços em nuvem. Assim, na minha opinião, o ponto principal da discussão sobre segurança dos dados em nuvem é o quão seguro os dados estão “dentro de casa”. E que segurança é essa em que as empresas não têm contingência de energia e refrigeração, não dispõem banco de bateria, máquina sobressalente, trabalha em cima de hardware obsoleto, e quando faz backup deixa a fita em cima do servidor? É zero! Na melhor das hipóteses, é uma segurança muito fraca.
Então colocar isso na mão de gente especializada por si só é um aumento no nível de segurança. Depois que essas questões estão resolvidas, realmente deve vir a preocupação sobre quem tem acesso aos dados da empresa. Aliás, como praticamente todas as empresas já estão conectadas à Internet, significa dizer que os dados já estão sujeitos a acesso indevido via rede. Que tal olharmos as estatísticas? Os números que eu tenho de cabeça indicam que 90% dos casos de falha de segurança vem de um fenômeno chamado engenharia social.
Então o problema não é o computador estar aqui ou ali. Geralmente, a intrusão é muito simples: ou uma política de segurança confiável não está disponível, com controle de senhas etc., ou o invasor entra através de um colega que lhe dá o acesso. E isso independe do computador estar dentro ou fora de casa.
LM: Quais são os investimentos financeiros e de tecnologia que a Mandic tá fazendo para atingir seus objetivos e superar seus desafios? A entrada da Intel Capital faz uma diferença muito grande?
MC: A entrada da Intel Capital sem dúvida faz uma grande diferença, pois para todo o capital aportado por ela tem que haver o aporte correspondente de todos os outros acionistas da Mandic. Assim, o investimento acaba sendo dobrado (a Intel entrou com X e nós capitalizamos a empresa em 2X). Assim, o primeiro benefício é o aumento da capacidade financeira da empresa.
Esses recursos serão utilizados para fazer o crescimento inorgânico da Mandic. Um segundo benefício é a mensagem que o aporte traz ao mercado: quem é a Intel? Se pararmos para analisar, praticamente em tudo aquilo que se faz em nuvem atualmente é possível encontrar o logotipo Intel Inside – por causa do processador x86, presente nas máquinas de qualquer nuvem, quer você esteja na nuvem da Amazon, da Mandic ou de qualquer outra empresa.
No final das contas, você acaba ficando sempre muito próximo da Intel, e a Intel escolheu um parceiro para poder entrar no mercado de computação em nuvem: esse parceiro foi a Mandic, que é uma empresa brasileira. Basicamente, a mensagem que fica para o mercado é: quem foi a empresa brasileira que a Intel escolheu para entrar no mercado de cloud? Afinal, também há outras empresas nesse segmento.
LM: Essa é a parte de investimento financeiro. Como ficou a parte de tecnologia?
MC: Temos uma política: só trabalhamos com equipamento que esteja em garantia. Ao final de 36 meses, fazemos trade-in do equipamento e entra outro novo, com mais 36 meses de garantia. Não há uma peça de hardware que esteja fora de garantia em nosso parque de servidores no momento prestando serviço a clientes, e é assim que queremos nos posicionar no mercado.
Queremos que o mercado tenha a percepção de que o padrão Mandic é o de qualidade superior. É corporativo, sim! A nossa proposta é trabalhar com 50 empresas? Não. O segmento do mercado corporativo que a gente quer atingir é de cerca de 300 mil CNPJs, cujas empresas têm um perfil bem definido para nós e se encaixam dentro de um polígono composto de pequenas/médias/enterprise no qual queremos ter uma participação de mercado alta (não entre as mil maiores, que entendemos ser uma briga diferente, muitas vezes com necessidade de full outsourcing e outros modelos que não são tão escalonáveis como o modelo proposto por nós).
LM: Como é que estão estruturadas as questões de governança, compliance e segurança no âmbito de Cloud Computing atualmente, na sua opinião? E o que você acha que precisa melhorar em cloud nessas questões?
MC: Computação em nuvem ainda está em um processo evolutivo. Acho que já passamos aquela primeira fase que era a interoperabilidade dos virtualizadores. Então praticamente podemos intercambiar sistemas virtuais usando Hyper-V, Xen, KVM ou VMware… Começamos com esta última e hoje em dia já há um leque de opções. A questão de você tirar uma máquina Linux de um desses e colocar em outro começou a ficar mais fácil.
Agora do ponto de vista estritamente tecnológico, essa questão extrapola o sistema de virtualização, e fica na camada de orquestração, onde começamos a falar de CloudStack, OpenStack, CloudPlatform etc. Acho que é nessa camada que as coisas tendem a evoluir mais, para que possa haver uma padronização. Até porque, o que que a gente faz? A gente faz prestação de serviço, e essa prestação é competência na linha telefônica, entendimento da necessidade do cliente, resolução rápida de problemas, consultoria sobre qual a melhor forma de agir.
Para que isso possa ser eficiente, essa camada de orquestração tem que ser padronizada, pois isso vai trazer mais benefício econômico. Assim, é necessário considerar atualmente para onde esses modelos vão convergir, se é CloudStack, OpenStack, etc. É claro que pode-se dizer onde um é melhor que outro, ainda tem um jogo ali, mas já começa a haver interoperabilidade entre eles. Já não se tem mais aquela preocupação de “Linux só funciona aqui ou Windows só funciona ali”, entendeu? Hoje é possível obter benefícios com virtualização usando diferentes virtualizadores. É a camada para orquestrar isso que será o próximo desafio.
LM: Cloud computing por causa da vigilância: é um risco ou isso pode mudar a gestão de segurança?
MC: Quando se fala de segurança há um jogo que é de Forças Armadas e NSA, e há um outro que é de corporações; se colocarmos tudo na mesma panela, não faz sentido. Então quando falamos em NSA, independentemente se você está à direita, esquerda, dentro ou fora do Brasil, NSA é outro jogo. Agora se falarmos em espionagem industrial, há um elemento aí que é de atenção e que a nem se fala tanto nele, já que ele está bem pervasivo, que é a tal da Internet, uma vez que sem ela não é possível fazer muita coisa, e não existe empresa “séria” ou “antenada” que não esteja conectada.
Então quando você pensa que está todo mundo conectado, aquela questão de se o equipamento está aqui ao lado em uma sala climatizada ou se ele está dentro de um data center começa a ficar indiferente e voltamos àquele tema que a gente já discutiu um pouco que é a engenharia social.
LM: Como é que você enxerga a importância do Big Data para o negócio de cloud?
MC: Acho que Big Data é um subproduto. Porque se cloud é um somatório de coisas – a arquitetura x86 é padronizada, capacidade de virtualização, banda larga adequada, tudo isso com qualidade, é possível somar tudo isso e conseguir ter capacidade de processamento e armazenamento alocados de modo dinâmico. E o que fazemos com isso? Uma das coisas que você faz – e é por isso que eu acho que se encaixa bem como subproduto – é começar a ter oportunidades de Big Data.
Pelo fato de agora haver capacidade computacional em larga escala e com uma flexibilidade que não havia antes, é possível guardar uma grande quantidade de dados e, a depender do modo como eu quero trabalhar esses dados, é possível disponibilizar muita capacidade de processamento para realizar análises de diversos pontos de vista, sob diversas perspectivas e com abordagens diferentes. Assim, Big Data é uma área fascinante! Muitas empresas já entenderam isso mesmo antes do advento da computação em nuvem como a conhecemos hoje, tais como Google, Facebook, Salesforce etc.
Na minha opinião, Big Data vai se tornar paulatinamente mais tangível para o usuário final, porque ele começará a obter mais benefícios diretos disso, da mesma forma que ele se beneficia hoje do Google. Já estão aparecendo uma série de aplicações de Big Data e vai ficar cada vez mais fácil de o usuário conseguir respostas prontas para resolver problemas cotidianos.
LM: Quem está adotando Cloud Computing no Brasil e quais são os resultados para negócio? Quais são as vantagens de negócios que estão sendo obtidas pelas empresas? O tamanho da empresa importa e qual tem sido a experiência da Mandic nesse sentido?
MC: Em termos de adoção creio que temos pelo menos 3 públicos muito claros: um público mais jovem, ligado às startups, que de certa forma já nasce com um modelo conceitual de nuvem – e essa é uma camada crescente, que já começa a aprender na escola ou antes mesmo já começa a brincar com dispositivos que trazem esse tipo de benefício (sem dizer necessariamente que é cloud).
No outro extremo, há aqueles que não passaram por essa fase e que têm maior dificuldade de se adaptar. Os primeiros já estão se beneficiando imediatamente. É um público que está aí e já está comprando – e comprava no exterior antes mesmo de a Mandic trazer isso para o Brasil. Já o público que está no outro extremo, o desafio é esclarecer como utilizar, mostrar quais são os benefícios, usando a analogia do pendrive.
E depois, quando subimos um pouco o porte em termos de corporações, vamos encontrar empresas que já têm suas áreas de TI estabelecidas, que podem contar com um coordenador, um gerente ou um CIO, que é um indivíduo que até poderia estar desconectado, ou não estava atualizado com as mudanças no mercado de TI (eu já disse que nos últimos 5 anos, essa percepção evoluiu tremendamente, de modo que hoje em dia todo mundo já sabe que cloud existe, embora não saiba ainda muito bem do que se trata), mas sabe que se ele não se interessar por isso, ele pode estar perdendo alguma coisa. No mínimo, ele não será capaz de responder quando o seu chefe perguntar: “E aí, o que que a gente está fazendo de cloud?” Então, há uma necessidade para o profissional de TI nesse nível de carreira de ter essa resposta na ponta da língua.
E, no final, essa resposta tem a ver com o modo que a tecnologia ajuda o negócio. Dependendo do tamanho da empresa, se ela dispõe de um legado muito grande, então não é possível fazer uma mudança imediata. Se esse legado for menor, já é possível criar tudo em um modelo mais moderno e escalonável. Vai depender do porte de empresa e da situação de cada um.
LM: Do ponto de vista do SaaS, Big Data, analytics, BI, BPM, ERP etc., o que realmente está disponível no mercado? A Mandic vai ficar só em IaaS, pretende incrementar suas ofertas para PaaS ou SaaS? Enfim, qual seria o direcionamento nesse sentido?
MC: Nessa sopa de letrinhas da cloud a gente fornece SaaS e IaaS. Acho que IaaS já ficou bem claro: temos mais de 5 mil servidores virtuais em operação e esse é um negócio crescente, composto de tudo o que você pode imaginar: clientes com máquinas pequenas, clientes com máquinas hospedando portais com uma necessidade transacional maior, e clientes com soluções parrudas, como soluções de ERP. Há também aqueles que usam sistemas virtuais como ambiente de teste de desenvolvimento.
Nesses casos, a Mandic oferece a infraestrutura, o gerenciamento, o backup, o serviço de segurança, o fato de estar em um data centerTier 3, tudo com flexibilidade para que o cliente não tenha que se preocupar com infraestrutura de TI.
No campo do SaaS, trabalhamos em duas dimensões: uma delas é a colaboração, que é onde entra o e-mail, que é muito forte no nosso portfólio e para o qual nós dispomos de um produto próprio, com 1 milhão de caixas corporativas. A Mandic é parceira de longa data da Microsoft e através dessa parceria fornecemos produtos específicos da Microsoft, como o Sharepoint.
Não resta dúvida para mim que o produto mais maduro que existe no mercado de SaaS é o e-mail, que já funciona nesse modelo há 20 anos, mesmo antes de existir a nuvem. Outros mercados em que antevejo um enorme potencial: CRM e ERP. Especialmente o de sistemas ERP para verticais, principalmente para empresas de menor porte, da mesma forma que aconteceu com o CRM.
Admiro o trabalho que a Salesforce fez! Para um empresário que tem dois ou três vendedores na empresa, basta comprar uma assinatura do sistema e sair utilizando imediatamente; funciona em tudo quanto é dispositivo, e, do dia pra noite, a empresa passa a ter um controle muito superior ao de uma planilha para gerenciar suas vendas. O ERP está em um nível mais alto, porque uma empresa com apenas 2 ou 3 funcionários ainda não precisa de um ERP, mas para empresas maiores, não há como fugir, e essa necessidade no Brasil está cada vez mais premente por conta da nota fiscal eletrônica.
A Mandic está atenta a isso, porque a Mandic é brasileira, é a nuvem brasileira, então ela sabe dessas particularidades e imposições. No caso da Nota Fiscal eletrônica (NF-e), por exemplo, que já é uma imposição desde o final de 2013, praticamente todas as transações comercial têm que gerar NF-e. O papel do profissional de TI e do departamento financeiro com essa nova ordem mudou: antes era necessário ir atrás de nota em papel, digitalizá-la e armazená-la em um sistema de gestão de documentos.
Agora o processo de digitalização não existe mais, e essas notas passaram a ser enviadas anexadas a e-mails em formato XML. E os sistemas ERP precisam assimiladas dessa maneira. Atenta a essa necessidade, a solução de e-mail da Mandic dispõe hoje da possibilidade de filtrar todas as extensões XML e colocar todos os arquivos nesse formato em numa pasta única.
Quando pensamos na dimensão das empresas, naquele trabalho que era oneroso no papel, e que após a NF-e ficou igualmente oneroso por conta da maneira em que essas notas passaram a ser manipuladas, uma solução simples como a implementada pela Mandic pode dar cabo disso, simplesmente porque colocamos inteligência no processo. E isso é aumento de produtividade.
LM: Como você enxerga o papel do CIO hoje no cenário de adoção de nuvem disseminado como está hoje?
MC: O papel dele no que tange à adoção é ímpar, porque quem assume a responsabilidade pelo processo é ele. Mesmo quando ele se reporta muitas vezes a um CFO ou a um presidente, a responsabilidade é dele. Pode ser que a caneta seja de outro, mas o que está em jogo é a posição dele. Ir ou não ir por um determinado caminho é uma decisão dele.
E a decisão de não ir pode acabar matando o seu negócio: por exemplo, pode existir comércio eletrônico ou portais de auto-atendimento que fiquem hospedados dentro de casa? Até pode, mas o fato de colocar dentro de casa, no mínimo está triplicando a sua conta de banda. Quanto mais sucesso essa abordagem tiver, maior será o consumo de banda, e, infelizmente, ninguém contrata banda em modo elástico.
Assim, aumenta-se o custo fixo o tempo todo, com aumentando da capacidade do link, fazendo a alegria do provedor de Internet. Esse tipo de decisão, que pode ser conservadora, de não ir pra nuvem por ser arriscado, na verdade é prejudicial ao negócio. TI está aí para aumentar a produtividade. Então tem coisa que não dá pra fazer em casa.
LM: Então você entende que a computação em nuvem realmente está cumprindo aquele papel que é aproximar a TI do negócio?
MC: Sem dúvida. Até porque muitas vezes o negócio mudou. Antes você só conversava com o cliente por telefone ou quando o visitava. Agora isso já acontece através das redes sociais. O negócio ganhou um outro alicerce tecnológico; então, se o CIO, que supostamente, no contexto da empresa, é quem tem que entender de tecnologia, não consegue desatar esse nó, quem está na frente vendendo está vendo que alguma coisa mudou: esse modelo está ultrapassado, não está escalonando, está conduzindo a uma perda de tempo e produtividade.
Com isso, o profissional fica correndo atrás de um tíquete pequeno, quando poderia estar elaborando uma proposta de comércio eletrônico, tem que ficar se deslocando, pois os servidores estão todos pulverizados nas empresas dos clientes. Isso é totalmente contraproducente, pois quando se há um servidorzinho em cada cliente, quando a máquina falha, é necessário enviar um técnico para efetuar o reparo e, quando ele chega lá e faz o diagnóstico, não há a peça necessária para fazer o conserto etc….
Ou seja, ele consegue fazer dois atendimentos por dia. Então o fato de não haver uma adequação desse modus operandi pode acabar matando o negócio. E, se esse tipo de empresa morre, vai deixar de haver aquele tipo de prestação de serviço? Não, só que mudou o formato. Então você fez uma pergunta perfeita: o papel do CIO; se ele não está antenado com o que descrevi acima, ele morreu. Ou a empresa vai junto, ou ele é demitido e a empresa arruma alguém que resolva o problema.
LM: Hoje IaaS, SaaS, Paas já virou algo um tanto comum… já temos até database as a service, comunication as a service, enfim… isso vai ao encontro daquilo que você comentou no início da entrevista, que a TI vai virar nuvem ou a nuvem vai virar TI. Qual sua opinião sobre essa transição e assim, nesse sentido, o que nos aguarda?
MC: O que a nuvem traz de fundamentalmente novo? Antes, para você ter acesso à tecnologia como ferramenta de aumento de produtividade, você só tinha uma opção: comprar um computador, escolher um software, instalar o software naquele servidor – ou arrumar alguém que instale e configure –, colocar em algum canto da empresa, e aí pagar alguém para tomar conta daquilo. Quando o sistema parava de funcionar, era um “Deus nos acuda”, pois em geral a máquina era uma caixa preta.
O que é computação em nuvem? Computação em nuvem é uma alternativa. Antes não havia uma alternativa. Automaticamente havia uma barreira de entrada para a adoção de tecnologia pelas empresas, porque quanto é que custa um computador e quanto é que custa esse pool de conhecimento para poder me ajudar a identificar a ferramenta que serve para o caso da empresa? A alternativa que a computação em nuvem traz é: ao invés de comprar, alugar. Alugar de acordo com a demanda da empresa. Pode-se testar, experimentar, colocar uma só licença, para, no mês seguinte, caso não dê certo, reduzir novamente o custo.
O negócio tem flutuações, a empresa vai adequando as contratações de acordo com o volume do negócio. Então, computação em nuvem trouxe uma alternativa. Tudo virou serviço, uma troca do capex(custo de capital) pelo opex (custo operacional). Ou seja, agora contrata-se tudo como serviço.
LM: E você acredita que isso vai se disseminar para todas as áreas?
MC: Sim, com certeza. Agora está muito claro que o ciclo é: grandes capacidades computacionais concentradas, alta capacidade de comunicação, links e dispositivos pequenos, práticos e com uma inteligência na ponta. Só que com capacidade multiplicada pelo fato de ter acesso a um pool de recursos computacionais virtualmente infinito. Esse é um modelo que está muito claro na cabeça de todo mundo.
Em algum momento ele inverte? Acho muito pouco provável, porque o que a gente enxerga hoje é que cada vez mais esses 3 elementos – o dispositivo da ponta, a comunicação e a capacidade descentralizada – deverão ganhar mais capacidade. Hoje, o smartphone que está na tua mão, que tem a capacidade de computação equiparada a de um determinado modelo de PC, terá a capacidade equivalente a um computador que é três vezes mais poderoso que aquele modelo. O servidor, que está descentralizado, evolui do mesmo modo.
A imagem que antes se tinha de um computador, em que se fazia backup em um HD externo, que depois virou pendrive, não é mais atual. Agora dispomos de um dispositivo portátil e levamos no bolso a mecânica de acesso aos dados, de modo que o que carregamos no bolso é o exponencial da nossa memória. Isso tudo se resume numa palavra: conveniência.
E quando aparece alguma coisa que traz mais conveniência, temos um efeito tsunami. Pode ser que haja um momento em que não seja necessário nem mais o uso de um dispositivo. Pode ser que não esteja mais tão longe o momento em que começaremos a implantar chips e sensores na cabeça das pessoas. Conversando com um colega por telefone outro dia, ouvi a seguinte expressão: “Um momento, que minha agenda tá na minha orelha.” Eu achei engraçado, de fato ele ia olhar no celular se podia ou não almoçar comigo.
Imagine daqui a 10 anos como isso poderá ser completamente retrógrado e ultrapassado? Quando se encontra algo que torna a vida do indivíduo mais simples, que traz mais tempo e conveniência, que o permite que ele produza mais, isso é impossível de frear. E cloud, que é o nome da vez, a bola da vez, é a porta de entrada para o próximo estágio.
Mandic em números: cresceu 30% em 2012/13; a previsão para 2014 é 40%. Depois da entrada da Intel, os planos envolvem aquisições, que devem ir ao encontro da filosofia da Mandic: superar a expectativa do cliente para oferecer soluções robustas de fácil utilização e inovação que agregue valor ao negócio.
Fonte: Linux Magazine
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