Se você trabalha com Tecnologia, talvez não tenha familiaridade com Lean, DevOps e Data Science, mas é quase impossível que não esteja lendo e conversando sobre Transformação Digital. A Transformação Digital, junto com a idade e o amadurecimento pessoal me fizeram entender na essência o papel do Gartner.
Embora de forma mais embrionária, boa parte dos conceitos ligados à Transformação Digital já faz parte do cotidiano de profissionais de tecnologia com cultura Lean e Ágil há quase 10 anos. Meu primeiro contato com várias destas idéias data de 2006 quando eu estava alocado na Globo.com, logo depois vivendo a transição ágil por lá no comecinho de 2007. Meu primeiro Sprint em time Scrum foi no comecinho de 2007 e o primeiro processo de Deploy que eu automatizei e depois integrei a um servidor de Integração Contínua foi em 2006. Também nesta época eu e vários colegas começamos a apoiar os Product Owners/Gerentes de Produto na escolha do que os nossos times trabalhariam, sendo guiados por Dados/Métricas. Claro que o amadurecimento destas idéias leva alguns anos, assim como a transição de cultura em organizações. Mas na Comunidade Ágil já temos muitos cases conhecidos de empresas que se reinventaram através destas mudanças de cultura.
Porém, no chamado Mundo Corporativo, as grandes corporações não pareciam dar muita bola pra isso. Aí veio o Gartner e batizou um conjunto de idéias de Transformação Digital, justamente no meio da pior crise que o Brasil já viveu. Com isso emergiu um caminho para corporações que precisavam se renovar para manter sua competitividade e longevidade em um mundo cada vez mais digital e conectado. O poder do Gartner percebe-se quando muitas empresas passam a classificar como estratégicas algumas mudanças culturais que já estavam ao seu alcance há quase 10 anos. Porém, antes do Gartner batizar as idéias de Transformação Digital, muitas corporações ainda não tinham uma referência confiável do que buscar.
Passado este preâmbulo, vamos nos concentrar nas idéias em si e dos “blueprints” que temos para caminhar até a Transformação Digital.
Provavelmente a referência mais antiga e importante de transição de cultura corporativa são as práticas Lean aplicadas pela Toyota em seu Toyota Production System. Para quem ainda não leu, recomendo demais a leitura do Toyota Way, um livro de 2004 que me impactou muito. Algumas das idéias envolvem:
- Trazer rápida visibilidade dos problemas e estimular a transparência
- Redução do desperdício
- Empoderar decisões no nível mais baixo possível da hierarquia: qualquer pessoa que perceber um problema pode parar a linha de produção inteira
- Em vez de usar “economia de escala”, usar “sistemas puxados” para implementar um processo “just-in-time” muito mais eficiente
- Cultura de melhoria contínua com ciclos curtos de inspeção e adaptação
- Cultivar líderes extremamente alinhados com a cultura e que formem pessoas e outros líderes
Eu adoraria passar horas falando da Toyota, mas o objetivo aqui é basicamente contar que muitas das idéias ligadas à Transformação Digital surgiram há algumas décadas e não é difícil obter referências das mesmas. O aspecto principal aqui é que uma Cultura de Excelência gera resultados excepcionais no longo prazo e de forma sustentável.
Alguns anos depois da Toyota, no começo deste século o mundo do Desenvolvimento de Software viveu o Manifesto Ágil, que prega que valorizemos:
- Indivíduos e interação entre eles mais que processos e ferramentas;
- Software em funcionamento mais que documentação abrangente;
- Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos;
- Responder a mudanças mais que seguir um plano.
Para qualquer profissional que tenha trabalhado em modelos anteriores ao Manifesto Ágil, estes valores são praticamente uma libertação. A experiência de trabalho com práticas não alinhadas a estes valores é muito frustrante e leva quase sempre ao fracasso.
Alguns anos depois do Manifesto Ágil, tivemos um movimento puxado pela Amazon, com sua unidade Amazon Web Services. Nascia o modelo de Computação em Nuvem e com ele um mundo de possibilidades. Se antes era necessário prever com antecedência o sucesso de produtos digitais para comprar servidores e colocá-los em datacenters com contratos longos, agora dispomos de poder computacional virtualmente infinito em poucos minutos.
Isto mudou dramaticamente a regra do jogo e permitiu que muitos empreendedores testassem modelos de negócio investindo pouco e com bastante agilidade. Milhares de startups se beneficiaram disso e algumas criaram mercados bilionários para si mesmas. O poder econômico das grandes corporações não mais impedia o surgimento de novos modelos de negócio disruptivos. A nova economia digital agora força que as empresas consigam inovar e se reinventar com frequência. Seguir executando o mesmo modelo de negócios tornou-se inviável e um perigo para a sobrevivência destas empresas.
Dois dos principais ícones do movimento de startups que nasceu a partir daí foram Steve Blank e Eric Ries, que documentaram com um pouco mais de formalismo o que batizou-se de Lean Startups. A mesma idéia de pouco desperdício e ciclos curtos de inspeção e adaptação da Toyota, mas empoderados por técnicas digitais que viabilizaram inúmeras inovações.
Após alguns anos de Lean Startups surgindo e tomando mercados antigamente dominados por grandes corporações, muitas corporações criaram células de inovação internas. Algumas com mais, outras com menos sucesso, mas a simples existência de bordas de inovação nas empresas trouxe uma oxigenação de cultura que estas empresas precisavam há muito tempo.
Passando por Nuvem e Startups, chegamos aos times de Operações. Uma metáfora interessante é que estes times devem deixar de tratar os servidores como seus bichos de estimação e passar a tratá-los como gado. Não dá mais pra ir lá fazer carinho nos seus bichinhos individualmente. Para conduzir bem a jornada você precisa entender como domar o gado e tê-lo monitorado e cuidado em escala.
Em Operações Digitais, o ritmo é infinitamente mais rápido e caótico e não dá para aplicar as mesmas práticas que funcionavam quando conhecíamos de perto cada servidor utilizado em nossas operações. É necessário automatizar e ter o mínimo de intervenções manuais para ter uma Operação Digital saudável.
Um termo que sintetiza esta mudança é o DevOps. Na essência ele resume uma transição de cultura na qual os times de Desenvolvimento e de Operações passam a caminhar mais próximos e a colaborar. Há muita demanda de desenvolvimento para automatizar rotinas operacionais. E emergiu um modelo de “Infraestrutura como Código”, no qual conseguimos manter um histórico das versões de todos os componentes da nossa infraestrutura.
O último pilar que eu gostaria de destacar é também o mais recente, a Ciência de Dados, ou Data Science. Ela veio em conjunto com o Big Data, em parte devido ao volume, mas o aspecto mais valioso na minha opinião é o da Cultura Analítica, guiada por dados (Data-Driven).
No QCon de 2015 eu contei um pouco da experiência de trabalhar com Lean e Data Science em um contexto de Turismo e E-commerce. Porém, a maior parte das idéias e práticas se aplica em diversos contextos de negócio.
A Ciência de Dados apóia muito na tomada de decisões e na transição de cultura das empresas. Antes as equipes mais operacionais apoiavam-se muito em intuição e critérios subjetivos para tomar suas decisões cotidianas. Hoje temos condições de implementar modelos bem mais objetivos e analíticos, com a decisão A sendo tomada caso uma determinada métrica esteja de um jeito e a decisão B sendo tomada caso a métrica esteja apresentando sinais diferentes.
Esta história que acabei de contar é um pouco longa, pois o que entendemos como Transformação Digital hoje é a síntese destas idéias e práticas que datam de mais de 20 anos. Entender e conduzir a Transformação Digital em grandes corporações hoje demanda apropriar-se da maioria destes conceitos e criar uma nova cultura.
Nesta cultura os times colaboram e inovam com um novo senso de propósito. Não adianta impor regras e exigir disciplina. A nova economia exige que consigamos cativar pessoas e empoderá-las para construir novos modelos de negócio. As lideranças constroem-se muito mais a partir de contribuições, em vez de credenciais.
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Por Bruno Pereira, Diretor de Inovação da Mandic Cloud Solutions
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